Em 25 de setembro é comemorado o dia do Rádio, em homenagem à data de nascimento de Roquete Pinto, o “Pai do Rádio Brasileiro”, este companheiro de todas horas. Nesses dias de Internet, TV a cabo, pay-per-view, celulares e afins, resiste ainda o radialismo esportivo e, sobremaneira, as transmissões de futebol.
Tndo crescido numa época onde praticamente não se transmitia jogo ao vivo pela TV, muito menos para a própria cidade e sem ter idade ou incentivo caseiro para ir ao Maracanã, me vi confinado ao mundo do radinho de pilha e da minha imaginação.
O resultado disto é que até hoje não dispenso o radinho em minhas aventuras na arquibancada, ou no carro. Ou mesmo no aniversário da minha própria filha. Saudades dos urros mitológicos do Jorge Curi, da sapiência fenomenal do João… depois do 1º tempo contra a U.S.S.R. na Copa de 82, reclamando da “teimosia siderúrgica” do Telê, escalando o Dirceuzinho no lugar do Paulo Isidoro, ou o Titio Mário Vianna gritando “Da figura A para a figura B. Baaaaaanheeeiraaa!!!!!“
Esse envolvimento, a proximidade, sempre ficam evidentes quando estou no carro e ouço o “Garotinho” Zé Carlos Araújo agradecendo a carona que damos à ele durante as transmissões. De nada. Eu é que agradeço a companhia.
Sou do tempo em a Rádio Globo tinha um timaço. Para mim, o melhor.
Minha família sempre saía do sítio às 17h de domingo e chegava no Rio exatamente no final do jogo. Durante anos cumpri este ritual, descendo a serra de Petrópolis na companhia de Jorge Curi, Waldir Amaral, Mário Vianna, João Saldanha, Kleber Leite e Loureiro Neto. É, o Kleber, que era um excelente latinha, virou um comentarista ácido e irônico, depois empresário e presidente de um certo clube da Gávea.
No carro, sempre imaginando aquele gramado verde e as arquibancadas infinitas e lotadas… ansiando em estar lá, doido para ter idade para ir sozinho ao Maraca… nunca vou esquecer um gol do Amauri, aos 46 do 2º tempo num Fla 0 x 1 Flu de 82 em que quase deixei meu pai surdo e ganhei um belo esporro, já chegando em casa, em frente à Estação Leopoldina.
No carro, foi inesquecível a desilusão da derrota de 4 x 0 para o Botafogo em 79, 1 semana depois de ter ganho o Fla x Flu por 3 x 0 (golaço do Cristóvão, Paulo Goulart
defendendo pênalti do Zico), jogo esse que escutei no rádio em casa, gritando, pulando no sofá e correndo que nem um doido. Teve um Fluminense e Vasco no brasileiro de 81 que consegui ir na quarta-feira, onde o Wright expulsou o Zezé com 1 minuto de jogo e perdemos de 2 x 0. No domingo, em casa, no radinho, ouvi ensandecido o Fluminense de Edinho e Cláudio Adão fazer 3 x 0 no 1º tempo… classificado no intervalo, corri para a máquina de lavar para secar a camisa para a escola na segunda, mas sucumbimos no 2º tempo graças ao Dinamite e ao César…
Ou o ritual da volta para a casa, quando sempre que um técnico do Flu começa a falar, eu entro no túnel (Rebouças ou Santa Bárbara) e perco parte da entrevista…
Enfim, são tantos anos e inúmeras histórias de jogos que só puderam ser vividas graças ao rádio e a esses heróis de todo dia que transformam autênticas peladas em batalhas épicas, gloriosas e leoninas pela vida e morte de nossas paixões. A eles o meu muito obrigado.
Carlos Clark é um tricolor carioca analógico, com um pé fincado no digital. Se diverte escutando a Rádio Gaúcha na Internet. Colabora com a Fla&News com histórias do mundo da bola.